02 julho, 2005

A Arte é Indivíduo, não Colectividade

Arte é espírito, e o espírito não precisa, em absoluto, de se sentir obrigado a servir a sociedade, a colectividade. A meu ver, não tem direito a fazê-lo, devido à sua liberdade e à sua nobreza. Uma arte que «se mete com o povo», fazendo suas as necessidades das massas, do zé-povinho, dos ignorantões, cai na miséria. Prescrever-lhe isso como um dever, admitindo-se, talvez, por razões políticas, unicamente uma arte que a gentinha possa compreender, é mesmo o cúmulo da grosseria e equivale a assassinar o espírito. Este - eis a minha firme convicção - pode empreender os mais audaciosos, os mais incontidos avanços, as tentativas e pesquisas menos acessíveis às multidões, e todavia ter a certeza de servir, de um modo elevado, indirectamente o homem, e à la longue até os homens.

Thomas Mann, in 'Doutor Fausto'

5 comentários:

ziggy disse...

e quem define o que ou quem são os iluminados? quando a arte não poder ser intrepretada e assimilada por todos dentro dos seus horizontes ou limitações então deixa de ter significado. Passa a ser objecto de ornamento sem qualquer tipo de profundidade.
O Thomas é porreiro :-)

Bruno Monteiro disse...

É preciso definir quem são os iluminados?
Ou só teremos que ter sorte em os encontrar.

ziggy disse...

e como é que os encontras? de repente alguém decide transformar-se em iluminado e passa a ser senhor da verdade??
Os iluminados não são aqueles que mesmo não sendo algo de especial adicionam algo de novo ao processo individual de desenvolvimento de cada um de nós?
Nós apropriamo-nos das verdades que pretendemos sejam nossas. Manipulamo-las, reorganizamo-las, pervetemo-las e fazemos delas novidades que se ajustam ás nossas necessidades. Assim, criamos a unidade. Copy paste é o processo. Simples não é? Os iluminados são criados e morto por nós consoante as nossas necessidades. por isso é que a arte deve ser de livre interpretaçaõ e absorção. Cada um cria com ela o espaço que a sua visão lhe dá daquele momento particular. O Monet pode ser muito bom mas pode não me agradar. Não deixa de fazer dele um mestre mas o seu mundo não acrescenta nada de novo ou significativo ao meu.
Acho que o factor sorte não se aplica a este caso :-) a sorte á tão abstrata como a criação de uma personalidade. E dois factores tão abstractos juntos acabam por não construir nada porque se irão interligar e interdepender. Life is what you make it ;-)

++!++ disse...

O texto não se refere a "iluminados" em nenhuma parte. Por isso não entendo a vossa obsessão !?

Apenas fala sobre a ARTE e sobre a fantástica e infinita liberdade criativa intrínseca ao ser Humano que cada vez mais se subjuga (consciente ou incoscientemente)às necessidades materialistas do mercado e da sociedade.

..pois, o inconsciente....esse mesmo...muitas vezes...esquecido e negligenciado pelos fundamentalistas da razão...que nos fazem crer que a objectividade é sinónimo de ciência e da razão....que arrastam a Arte para o lado subjectivo e irracional..condenando assim o Homem a involuir e até regredir por não potenciar o seu lado subjectivo e intuitivo.
...é um texto lúcido..que me faz ter mais discernimento sobre quem sou e onde estou...
thats all.....
Amor e Paz !

Bruno Monteiro disse...

Certo... Uma lição.